quarta-feira, 28 de julho de 2010

Anjo do desassossego




Sempre envolvido nos problemas dos outros, por vezes esquecia-se dos seus.
Sempre dividido entre o bem e o mal, o dever e o fazer, a cabeça e o coração, o amor e a paixão.
Fragilidade de mulher num corpo forte de homem.
Sentia tudo… sempre… a dobrar…
Sentia por ele e pelos outros.
Sentia demais, e por isso sentia-se fraco, até para amar.
Começou a pensar, não com a cabeça mas com o coração.
Deixou o amor partir e entregou-se a uma paixão.
O peso que trazia às costas não ajudava em nada e tudo piorou quando ouviu a voz da sua amada:
“És falso! Os anjos não têm asas!”
Destroçado com tamanha crueldade arrancou-as sem nada temer e, esvaindo-se em sangue, transformou-se finalmente naquilo que sempre esteve destinado a ser.

TAROT_I_O Mago



Ele era um jovem atraente, inteligente, bonito por fora e por dentro. Tinha um sonho e nada nem ninguém o iriam demover da ideia de o realizar. Assediado constantemente por mulheres, homens, raparigas e rapazes, nunca se deixou cair em tentação.
Sabia que uma relação só o levaria à distracção da realização do seu sonho há muito sonhado e desejado.
O único defeito deste jovem perfeito foi não ousar sonhar mais alto, e deixar o amor da sua vida passar-lhe ao lado.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O Grito



A Depressão é fodida
assim que parece estar de saída
lá volta ela
estava só escondida, à espera
para nos moer, atormentar, matar aos poucos
sugar a vida
Se eu soubesse que ela ficava
ia-me agora embora, sem demora
deixava tudo para trás
Mas tenho consciência de que ela me seguirá
para onde quer que eu vá
sozinha ou acompanhada
lá estará ela à espreita
e eu desfeita em pranto
em troca de nada
E nada é como era
nem nunca poderá voltar a ser
choro até adormecer
acordo a chorar
exausta pelo mau estar
que esta dor constante me provoca
Quero gritar
mas já nem para isso tenho forças
Gritos mudos consomem-me por dentro
deixam-me numa apatia vazia
Tenho medo do desespero que sinto
ao sentir-me cada vez mais cheia de quase nada
Menos viva, mais morta
Por favor, vai-te embora,
Vai bater a outra porta!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

TAROT_X_A Roda da Fortuna


Maria estava feliz. Nunca um dia lhe tinha corrido tão bem. Fora promovida, começara as férias, engravidara finalmente. Apanhou um táxi, queria chegar depressa.
- Para onde, menina?
O taxista não viu o sinal passar a vermelho e tudo escureceu repentinamente.

domingo, 25 de julho de 2010

TAROT_XIII_A Morte




- Como achas que ficou?
- Não sei, mostra.
Ele começa a tirar as ligaduras da cara.
- E se estiver horrível? Vais continuar a amar-me?
- Até que a morte nos separe!
Assim que ele destapa a cara ela dá um grito aterrorizado e morre de susto.

sábado, 24 de julho de 2010

(Des)Espero




Espero não ter que esperar
Quem espera
Espera sempre demais
Desespera quando o mais,
nada mais é do que esperar por algo
que não lhe pertence
Atrasos de pessoas que de atrasadas só têm as horas
Contadas à toa a quem as quiser ouvir
Pois eu não quero ouvir
senão o silêncio de quem é pontual
De quem nunca se atrasa por nada
De quem nunca faz esperar
e que por tal exige não esperar também
Nem por ti
Nem por ninguém
Que me faltas ao respeito
Por com tal despeito
Me fazeres a desfeita
De ter sempre que esperar

FP

Auto-retrato


Naturalmente sensitiva
Energicamente susceptível
Eventualmente explosiva
Ocasionalmente miserável
Absorvo subtilezas nos ambientes 
E nos olhos dos demais
A minha realidade é a das abstracções
Onde encontro o sentido da minha existência
Alma de artista nómada
Viajo nos céus dos meus sonhos
Enlevada entre notas musicais e pinceladas de cor
Letras escritas e desejos de criar
Ainda vejo fadas e duendes, pós mágicos e estrelas cadentes
Sou contradição de emoções fortes e de razão incontornável
O Amor é o meu paraíso e o meu carrasco
Faz-me voar nas asas da minha essência
e arrasta-me de volta à limitada condição humana
Sou mistério insondável de mim própria
Inconsciente ser que ama a vida
E a redescobre a cada passo do caminho...


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Mini conto #2


Todos os dias, depois do trabalho, ela passa por cá.
Traz rebuçados de mel, novelos de lã e uma flor silvestre que entrega à velhota.
O ritual inicial é sempre estranho e confuso para quem se conheceu a vida toda, mas repete-se sem excepção.
"Quem és tu querida?"
"Sou eu mãe, a tua filha...".

quarta-feira, 21 de julho de 2010

E se…




Dois amigos entram numa estação de Metro. Não se vêem as suas caras, só se ouvem as suas vozes. Enquanto descem as escadas ouve-se o Metro a chegar e eles começam a correr escada abaixo. Vêem-se pessoas a sair apressadas. Ouve-se o apito das portas a fechar.

– Corre.

– Tem calma, apanhamos o próximo.

As portas fecham-se. Dentro do Metro, que já está em movimento a ir embora, vê-se uma rapariga e um rapaz a olharem cá para fora com um ar muito espantado. Começam a fazer gestos, a andar para trás na carruagem e a bater nas janelas com um ar aflito. O Metro desaparece. Os dois amigos viram-se e dirigem-se aos bancos de espera, onde se sentam. Vêem-se os pés de três pessoas, mas só se ouvem duas delas a falar.

– Viste?!

– Não é possível!

Chega outro Metro. Abrem-se as portas. Saem pessoas. Vê-se um rapaz e uma rapariga a entrarem de costas. Ouve-se o apito de fecho de portas. Os dois sentam-se de frente para a porta a olhar um para o outro com ar sério. Viram-se para a frente. São as mesmas pessoas que foram embora no Metro anterior. Estão com um ar muito sério e assustado de quem viu fantasmas. O Metro desaparece na escuridão da linha.
O terceiro par de pés pertence a um rapaz, que assistiu a tudo e começa a rir descontroladamente num misto de espanto, susto, divertimento e puro terror.
……………………………………………………………………………………………
"Insólitos"_WIP 2009-...

FP

Death/7ete




São as cores do arco-íris
É a minha família
Destiny, Death, Dream, Destruction, Desire, Delirium, Despair,
As minhas pessoas, eu incluída
Nesta surpresa que é a vida
Eu sou a Morte
Certeza incerta
E eu sempre desperta
Atenta ao que me rodeia
Ao que me atormenta
Sem maneira de prever
O que acabará por acontecer
São as vidas de um gato
Ou a língua de um chato
Que me chateia até ao amanhecer
O meu dever é levar comigo quem deve morrer
Pois eu sou a Morte que nada mais tem para fazer

FP

Everything is Nothing is Everything



All I want from you is Everything
The smiles
The look in your eyes
The matching words
Oh how that hurts
Knowing that
I want you to give me Everything
But

With Everything we'll have Nothing
'cause

Nothing is Everything is Nothing

All I want from you is Nothing
No disappointments,
No lies, no disguise,
No games, no frames, no blames,
No flaws, no laws,
No cheating, no sex
Nevertheless
I want you, so just shut your mouth
And breathe in and out
'cause

With Nothing (of this)
We'll have Everything (we need)

Everything is Nothing is Everything

What I feel it's what I am
And what a mess
Don't think you need that in your life
Don't think you deserve that in your life
Hope I mean Nothing to you
'cause

Everything is Nothing is Everything

And that's what you are to me
So don't just stand there
I'll be here, anytime anywhere,
But not forever
..................................
Nina&Manecas in "Sono"_WIP 2009-...
FP

terça-feira, 20 de julho de 2010

Serei o ú n i c o ?

No mesmo segundo, em partes diferentes do globo, seres sorriem e seres choram do fundo das entranhas. Num lado uma mãe vê um filho nascer, do outro um filho vê uma mãe morrer prematuramente. Enquanto uns fazem amor, outros morrem trespassados por balas e facas ou desfazem-se sobre minas ou sob rockets. Num canto da terra pessoas apaixonam-se e, no mesmo instante, noutro canto alguém despedaça o corpo na frente de um automóvel.

Mais curiosamente, dentro de um mesmo sere se chora, para mais tarde se voltar a sorrir, para ainda mais tarde se voltar a chorar, mais forte do que nunca. Caímos e levantamos, voltamos a cair, voltamos a levantar, até que um dia caímos de novo. No mundo todos os opostos acontecem simultaneamente, e dentro de cada um de nós outros mundos mais se vivem ainda, vivendo-se os mesmos opostos e as mesmas loucuras que se vivem cá fora.

Serei o único a achar tudo isto muito estranho? Serei o único a pensar que é isto feito da mais profunda ironia, da mais inimaginável crueldade e arbitrariedade? Apenas eu pensarei que é tudo demasiado peculiar para ser mesmo assim?, para ser real? Serei o único a sonhar com algo diferente, com uma fuga deste carrossel demoníaco, destes altosebaixos insanos?

Serei o único a pensar que
tudo isto terá que
n e c e s s a r i a m e n t e
ser um sonho?

__
Dedicado à mãe que partiu recentemente e, principalmente, ao filho que ficou.

The Waiting Game




It doesn’t matter anymore,
Tears of rage or deceit,
I am so tired of it all,
You were only make believe.

In the place I thought we’d met
all is bare and color blind
makes no sense to linger here

I’m a dark eyed freak,
No blue skies follow me,
Roaming around the streets,
Nowhere else I’m meant to be

Why.. Oh Why
Do I always have to lose
Another heart on the bend
Never good enough to choose

Random thoughts of despair
Make me scream and laugh and cry
After that, I just sit still
Numbness follows every time

Why.. Oh Why
Do I always have to lose
Another heart on the bend
Never good enough to choose

I’m still waiting for you
Like I always do…

(des)Ilusão




Iludo-me facilmente
Só para me desiludir logo de seguida
Não penses que penso que é tua a culpa
Apesar de achar que não tens desculpa
Por nem isso teres sido capaz de me pedir
Vejo o que poderia ter sido à partida
Acabar por se transformar em nada à chegada:
Não me fazes falta!

Dou-me facilmente
E deixo-me abraçar
Por isso me sinto tão dormente
Chegou a hora de me fechar
Quis dar-te tudo o que podia
Cheiras a maresia
E ondulas sem parar
Agitando a calma da minha Alma
Não quero ser tratada como a tua malta
Por isso amigo, agora te digo, em voz alta:
Não me fazes falta!

Não me faças parar
Pára de te atravessares no meu caminho
Aproveita agora
Que me cansei de te chatear e
Pára um pouco para pensar
Em tudo o que perdeste
Só por deixares andar
Confesso que não perdeste nada de jeito
A não ser o facto de apenas ser verdadeiro
Não seria vantajoso para ti
Não te odeio
Por favor não penses mal de mim
Digo-te apenas em voz alta:
Não me fazes falta!

De costas voltadas
Vejo-te melhor
É nas costas dos outros que vemos as nossas
Sei que troças de mim
E, traço o meu destino sem ti
Próximas como duas gémeas
Como algo que deveria ter sido mas não foi
Nem sei o que chegou a ser
E não é com prazer que te digo:
Não me fazes falta!

E assim (des)iludi-me a mim própria
Por andar entretida
À procura de uma amizade apenas utópica
Quando estou de baixa
Mas a precisar de ter alta
Sei que é de ti, porque:
Tu não me fazes falta!

Dá-me muito forte
Mas depressa passa
E nunca me atrasa
Nos meus deveres e afazeres
Deverias ter-me em consideração
Terias evitado tanta confusão
Só por amares outrem
Não é razão
E eu não me deixarei levar por ninguém
Que nem sequer merece a minha compaixão:
Adeus irmão!

Se não me tivesses subestimado
Ter-te-ia tudo dado
Agora transformado em nada
E nada mais tenho a acrescentar
A não ser que irei nadar daqui para fora
Eu que nem o sei fazer
Mas sei sempre quando me devo afastar
Sei e sinto que não era bem isto que queria
Ou sequer merecia
Mas sabes que nunca minto
Por isso agora te digo:
Até outro dia!

FP_2010

domingo, 18 de julho de 2010

Amor_te


Ter
Mas não querer ter
Por querer sempre mais
Mais do que se pode
Mais do que se deve
Como quem nunca se atreve
A dizer mais do que aquilo que pensa
Do que aquilo que sente
Felizmente sentimos e dizemos
Tudo aquilo que queremos

Amo-te sem vergonha
Amo-te sem medo
Amo-te só porque sim
E não porque sei que também me amas a mim

Quebro a entrave que não me deixa ver
Alcançar o teu Luar
Brilhas como uma estrela cadente
Distante mas carente
Amor Errante
Sempre presente em mim
Até mesmo quando não estás aqui

Ri-te
Limita-te a ultrapassar o limite

Derrubo esta barreira
Com ou sem fronteira
Cercada de ti
Fico sem eira nem beira
À mercê da tua vontade
Do teu desejo
Do teu amor
Amo-te como amante
E de rompante
Quero dizer apenas
Sem nenhum pudor
Amo-te até à Morte
Meu Amor
Amor-te

Para o meu J.
FP_2010

Alma Solitária




Hoje sinto-me só
A culpa não é tua
Talvez seja minha
Por te querer aqui
Junto a mim
Sempre rodeado de amigos
Gente a mais para o meu gosto
Mas a falta da tua presença
Deixa-me num profundo desgosto
E sinto-me só no mundo
Que não é teu nem meu
Mas de todos nós
Mesmo quando nos sentimos sós

Para ti_A
FP_2010

sábado, 17 de julho de 2010

Frágil




Sinto-me frágil
Ignóbil desequilíbrio mental
Fisicamente provado e comprovado
Comportamento anormal

Desiludida
Por me iludir ao deixar
Enquanto outros me iludem
Sempre à espera que coisas e pessoas mudem
Mas apenas eu mudo
E tu, ele, vós, amuais
Que nem uns animais
E eu passo de vítima a presa
Com pressa de fugir
Da injustiça que está sempre na iminência de vir

Queixo-me porque necessito
Desabafo porque rebento se não o fizer
Porque ainda não sei reagir de outra forma
Por norma penso e repenso em tudo
Quero deixar de pensar
Preciso de dispensar este acumular de energias perdidas
Mal gastas em pequenas avarias
Que apenas eu vejo grandes
Enormes aos meus olhos
Indiferentes aos dos outros
Será que é por andarem já todos meio mortos
Ou andarei eu a matar-me aos poucos
Vivendo neste constante tormento cerebral
Que não me deixa descansar
De tanto se queixar
De tantas vezes me deixar ficar mal

FP
Julho2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

As you are...

Mini conto #1


Tinham acabado finalmente de casar. O suposto dia mais feliz das suas vidas. O noivo serve o champanhe e entrega a flute à noiva, juntamente com um papel dobrado em quatro.
"Um brinde e uma surpresa!". Sorriram ambos.
A noiva bebeu o champanhe e leu no pequeno bilhete: "Sei o que fizeste".
Deixou cair o copo e levou as mãos ao pescoço... Caiu morta.

Verdandi





O Passado já era, foi o que foi e não volta a ser.
O Futuro é incerto, tendo como única certeza a morte.
O Presente é agora!
És tu, são tds aqueles que te rodeiam.
Vive o Presente como se não houvesse amanhã e
Presenteia-te com o que mais gostas de ter, de fazer.
Vê com olhos de ver,
Observa,
Faz algo que te enerva desaparecer
Está atento
E sem medo abre a mente
Não olhes para trás
Olha em frente!

FP_06.07.10

Na minha rua...


(texto baseado no tema "na minha rua", de ANAQUIM)

A nostalgia de tempos antigos e mais felizes, trouxe-me a esta velha rua de bairro lisboeta. O caminho de pedra de calçada desgastada abriu-se num pequeno pátio de prédios antigos e varandas pitorescas, hoje quase todos devolutos. Tudo meio abandonado, alguns rostos estranhos passando por ali. Aproximei-me do rés-do-chão da porta vermelha, onde vivi tantos anos e sentei-me no degrau. Contemplei cada parede, cada janela, cada pequeno canto, todos cheios de restos de mim. Fui sendo assaltado por recordações de berlindes, fisgas e corridas com os outros miúdos do bairro. Senti o calor do meu primeiro beijo e revivi um pouco da dor da morte do meu pai. Eu era o miúdo mais novo e o mais apaparicado, que apesar das travessuras constantes, recebeu muito amor, conselhos, raspanetes e guloseimas. Fantasmas de gente simples, pobre e sacrificada, mas intensa no viver e na pureza de sentimentos. Gente que lutava e não se rendia aos tempos difíceis. Ecoavam nos meus ouvidos as festas e bailes, as brigas e as zangas de namorados e amigos, mas também a profunda entreajuda e compaixão. Tudo isto é um pedaço de mim. 
Uma mão pousou no meu ombro. 
"Olá amor.."
Era o nosso aniversário de 20 anos de casados. A rosa vermelha passou da minha mão para a dela. As lágrimas espreitaram dos seus olhos. 
Demos as mãos, olhámos o sítio que nos criou e juntou e saímos dali, felizes.



Estrelas

Estrela no céu brilha sem parar

Mostra-me o caminho a seguir

Sem nunca cair

Sem nunca tropeçar