quarta-feira, 30 de março de 2011

SONO_III



Os dias foram passando, assim como as horas perdidas em buscas sem resultado. Mas se há coisa a que Jota está habituado é à rotina. E duas semanas passaram, num abrir e fechar de olhos, sem ele dar conta. A única coisa que se alterou no seu dia a dia foi o facto de andar à procura de alguém em concreto, e não a procurar desconhecidos, fingindo conhecê-los, seguindo-os e tirando-lhes fotografias para a sua Exposição de fotografia. A estranha mulher que mexeu consigo, e que lhe despertou a curiosidade e o interesse suficientes para andar perdido à sua procura nas últimas duas semanas, continua sem lhe sair da cabeça.
Também na estação de comboios as coisas continuam mais ou menos na mesma. A única coisa que mudou foi o tema das conversas do “trio maravilha”. Nina, Manecas e o Sr. Anselmo só falam de Jota, da “Estranha” e dos seus girassóis, e de um possível mistério que os envolve.
Todos os dias, apesar de não haver novidades, devido às buscas em vão, estes três amigos conspiram, supõem e inventam novas teorias, tentando adivinhar o que se passa.

- Há uma coisa que eu continuo a achar que não bate certo. – Manecas está com um ar pensativo.
- Não me digas que já começas a acreditar na história do Jota? – pergunta-lhe Nina com ar bastante divertido.
- Se queres que te diga a verdade, ainda não sei muito bem o que hei-de pensar. Mas suponhamos que sim, que a história que Jota nos contou é verdadeira e que ele nunca dorme… - Manecas faz uma pausa à espera de confirmação por parte de Nina.
- Ok – responde-lhe ela lenta e pensativamente.
- Continua a haver uma coisa que não me sai da cabeça.
- Porque é que ele anda atrás da mulher dos girassóis?! – Nina tenta adivinhar.
- Também, mas mais importante do que isso, segundo o que ele nos contou, ela matou uma pessoa. Como é que é possível?! Ela tem sempre um ar tão calmo e sereno. Parece ser boa pessoa e, afinal…
- As aparências iludem, Manecas. Não me perguntes porquê, mas eu acredito no que Jota nos disse, e acho que até pode não ter sido de propósito. Imagina que foi pura coincidência!
- Se não foi de propósito porque é que ela fugiu?
- Pois é, tinha-me esquecido. Ah, se calhar foi ele que matou o passageiro e…
- O QUÊ?! – grita Manecas espantado, interrompendo-a.
- Imagina que o que ele nos contou é verdade mas que foi contado ao contrário.
- Tu és mesmo doidinha. Acabaste de me dizer que acreditavas em tudo o que ele nos disse…
- E acredito! Mas pensa bem. Ele pode ter contado as coisas à maneira dele de modo a ficar favorecido. Cá para mim ele é que é o assassino e está a querer pôr as culpas em cima dela.
- Mas porquê?
- Porque ela deve ser a única testemunha do crime.
- Achas?
- Acho. Mas também pode ser por vingança.
- Como assim?
- Ela pode-lhe ter dado com os pés, ele ficou chateado com isso e resolveu…
Manecas interrompe-lhe o discurso novamente:
- Matar alguém e pôr-lhe as culpas em cima?
- Exactamente! – diz Nina dando uns pulinhos de alegria por Manecas ter percebido o seu raciocínio.
- Tu és um caso perdido!
- Quem diz é que é! – diz-lhe ela fazendo uma careta.

Jota aparece na estação de comboio esbaforido. Entra de rompante a correr e quase sem fôlego. Está com um ar bastante aflito, o olhar vidrado, a escorrer suor, tem um olho negro e o nariz a sangrar. Nina e Manecas vão em seu auxílio assim que o vêem.
- O que é que te aconteceu? – pergunta-lhe Manecas com ar preocupado.
- Estás num bonito estado, estás! – Nina olha para ele e logo de seguida troca um olhar desconfiado com Manecas.
Jota diz-lhes que prefere não falar do assunto. Só precisa de lavar a cara e depois vai à sua vida. Manecas leva-o até à casa de banho, enquanto Nina lhe prepara um lanche.
Enquanto Jota se refresca, Manecas tenta saber o que se passou e pergunta-lhe o que aconteceu. Mas Jota está tão transtornado, cansado e assustado que Manecas percebe que não vai ficar a saber nada e decide parar de fazer perguntas.
Saem da casa de banho. Quando Nina se apercebe de que Jota se está a ir embora, grita-lhe:
- Ao menos come qualquer coisa antes de te ires embora.
- Obrigado mas não me apetece. Fica para outro dia.
Nina, teimosa como sempre, embrulha à pressa duas bolas de berlim com creme e canela e vai a correr até apanhar Jota.
- Não nos vais contar o que te aconteceu, pois não?
- Hoje não.
- Mas porquê? – pergunta Nina com ar de criança que está a ser contrariada e que vai começar a fazer uma birra a qualquer momento.
- Porque foi o pior dia da minha vida.
O olhar de Jota é tão triste ao dizer isto que Nina sente um aperto no coração.
- Toma. São para o caminho. – diz-lhe ela com ar dócil.
Jota fica espantado e um pouco comovido com este gesto de Nina e o “Obrigado” que lhe consegue dizer, não é mais do que um pequeno murmúrio abafado.
Enquanto isso, tira dinheiro do bolso para lhe pagar, mas ela diz-lhe que não aceita:
- Estas são por conta da casa.
Jota agradece-lhe novamente e afasta-se.
Nina ainda lhe diz:
- Não te esqueças que podes contar sempre connosco para o que der e vier!
Jota que já está novamente a ir embora, não se vira para trás, mas levanta a mão num pequeno gesto de adeus.
Será que se pode chamar a isto amizade?! Ajudar um desconhecido sem pedir nada em troca?!

No caminho para casa, Jota sente fome e decide comer uma das bolas de berlim que Nina insistiu em lhe dar. Quando dá a primeira dentada, sente as pernas fraquejarem. Encosta-se a uma parede e deixa-se escorregar por ela abaixo até ficar de cócoras. Desaba a chorar, e ali fica, até se esgotarem as lágrimas.
Afinal o pior dia da minha vida acabou em beleza com estes bolos. São uma maravilha! Que delícia! Nunca comi nada assim.
Mas só come uma, pois não tem apetite para mais, e guarda a que sobrou na mochila. Sorri. Mas é um sorriso triste, porque embora tenha recebido ajuda, atenção e carinho por parte dos novos amigos, recorda os acontecimentos infelizes do dia inteiro e, pior do que isso, perde pela primeira vez a esperança de reencontrar a “Estranha”.
Fazes-me falta!

Chega finalmente a casa. Está morto de cansaço e todo dorido da tareia que levou. Prepara o seu merecido banho de imersão. Vai buscar uma cerveja preta ao frigorífico e mergulha o seu corpo na água quente. Relaxa pela primeira vez no dia inteiro, pensa em tudo o que lhe aconteceu nos últimos dias e em como as coisas se descontrolaram sem motivo nenhum aparente.

Há uns dias atrás:

Jota passa a noite inteira na Net a pesquisar informações sobre os arredores da estação de comboios. Percebe que à volta do pequeno bairro que já conhece tão bem como a palma das mãos, existem campos e descampados, diversas plantações, algumas casas e um enorme casarão, supostamente abandonado. Não encontra nada acerca de plantações de girassóis naquela zona, a não ser que não é a altura certa para elas. Jota acha isto esquisito.
Mas onde é que ela foi desencantar os girassóis se não é a altura deles?! Seriam de plástico?! Realmente o cheiro agradável não podia ser deles. Os girassóis nunca cheiram assim tão bem.
Na pesquisa encontra um mapa da zona. Imprime-o e guarda-o na mochila. Enquanto está a fazer isto pensa:
Tenho um bom sentido de orientação mas não quero perder mais tempo a procurá-la. Assim vou directo ao assunto. Ela deve morar numa daquelas casinhas minúsculas. Só pode!
E nesse mesmo dia Jota regressa ao caminho que tinha descoberto na véspera. Não pára na estação para não perder tempo, nem dá a volta do costume pelas ruas e ruelas do bairro mais próximo. Desistiu de fazer isso porque acha que anda a perder tempo por ali.
Sinto que não é aqui que ela mora.
Jota está numa zona com vegetação e uma estrada de terra batida cheia de curvas e contracurvas. Vai andando e de vez em quando avista casas isoladas no meio da vegetação. Anda bastante até que chega a uma recta, a perder de vista, onde a vegetação se adensa, dum lado e doutro da estrada.
Passando a recta interminável, chega finalmente ao sítio onde tinha estado no dia anterior, e depara-se novamente com três caminhos de terra batida distintos. Um em frente, um à direita e outro à esquerda.
Um deles é o certo. Um deles vai levar-me até ela.
Tira do bolso a bússola que tinha pedido emprestada a Hugo “Boss” e vê que o caminho em frente indica o caminho para sua casa.
No meio é que está a virtude, mas não é para minha casa que eu quero ir, é para a dela.
Observa o mapa. O caminho da direita tem algumas casinhas espalhadas por todo o lado.
Decide aventurar-se por aí.
Farta-se de andar mas não descobre nada. As casinhas estão abandonadas e quase todas em ruínas.

No dia seguinte mete-se pelo caminho da esquerda.
Farta-se de andar novamente e também descobre que o caminho não vai dar a lado nenhum.
No caminho de volta pensa:
Afinal no meio é que está mesmo a virtude. Ela deve morar a caminho de minha casa. Está mais perto do que eu pensava. Quem diria?!
É nesse caminho que existe o tal casarão. E eu a pensar que ela vivia numa casinha…

Chega novamente ao cruzamento.
Porque é que temos sempre de complicar tudo? Bastava ter seguido em frente. Raios me partam! Bem, agora já está. Fica para amanhã, que se faz tarde e vai escurecer em breve…
Ao sair dos terrenos, entra no bairro e sente-se ansioso pelo próximo dia e ao mesmo tempo mais descontraído do que de costume.
Está quase!
Já conhece alguns dos moradores do pacato bairro, os seus hábitos, horários e rotinas. Começa a pensar em distrair-se um pouco.
Quem sabe se seria bom fazer novos amigos?
Mas nunca nada lhe corre como planeado e desta vez as coisas até acabam por correr mal.
Sente um cheiro agradável no ar.
Que cheiro agradável! Não são os girassóis, mas cheira bem!
Jota lembra-se de ter reparado na sacola de girassóis que a “Estranha” levava debaixo do braço e de Nina e Manecas lhe terem confirmado que ela andava sempre com aquela sacola. Decide então, prestar mais atenção ao olfacto.
Se der com os girassóis, encontro-a.
Pensa isto e fecha os olhos, deixando-se levar pelo olfacto.
Anda por ali a deambular durante um bom bocado quando de repente é acordado pelos gritos de uma mulher:
- TARADO! Sai daqui seu tarado!
Jota abre os olhos e vê que está junto a um estendal duma varanda relativamente baixa. Está tão estremunhado e assustado com a gritaria, que não se apercebe logo o que se está a passar.
A mulher continua aos gritos, a insultá-lo. Jota percebe que enquanto estava distraído de olhos fechados a seguir o olfacto, foi parar ao estendal de uma rapariga. Observa o estendal e ri-se quando vê o que está pendurado.
Roupa interior feminina. Boa, Jota! Agora vais passar por tarado…
Mas o seu pensamento e sorriso depressa são interrompidos por um puxão. Jota sente os ombros serem puxados e revirados com força e dá de caras com um matulão.
Porra! De onde é que apareceu este gigantone?! Estou tramado! Não vou sair daqui vivo!
O matulão, depois de virar Jota para si, começa-lhe a bater. Jota não se defende, nem tenta fazê-lo. Foi apanhado de surpresa e não sabe como há-de reagir. Por isso não reage.
Nem vale a pena tentar explicar o que aconteceu. Este brutamontes não vai perceber nem acreditar em nada do que eu lhe disser.
O matulão continua a bater-lhe e a ameaçá-lo, e Jota cai no chão. Nisto, a rapariga grita:
- Deixa-o em paz! Não vês que não é normal? Nem tenta defender-se!
- Não é normal não! É um tarado! Ele já vai ver o que acontece aos tarados aqui por estas bandas! – diz o matulão com ar ameaçador.
Jota sente-se como se estivesse num videojogo de um combate de Wrestling.
Mas é como se alguém se tivesse enganado nas categorias de pesos e tivesse posto o mais fraco, eu, contra o mais forte, este matulão gigantone. Brutamontes dum catano! Ou como se um dos comandos, o meu, estivesse avariado!
Ainda no chão, a ser pontapeado pelo novo “inimigo”, ouve vozes de homens ao longe. O matulão também ouve e pára, por breves momentos, de lhe bater.
Se não aproveito para fugir, não saiu daqui vivo!
Levanta-se de um pulo, enquanto o outro está a acenar aos amigos e a gritar:
- Aqui! Venham cá!
E mais qualquer coisa que Jota não percebe nem está muito interessado em perceber porque já deixou de os ouvir. Quer é fugir dali o mais depressa possível e lá consegue arranjar forças para se pirar, tipo faísca.
Jota foge a correr e só pára quando já não aguenta mais. Deixa-se cair de joelhos. Está ofegante e afogueado.
Não é um bom bairro para fazer amigos, só inimigos. Nos próximos dias tenho de ter cuidado para não dar novamente de caras com o “gigante”.
Senta-se no chão, tira uma garrafa de água da mochila e bebe devagar. Fica ali um bocado a olhar em volta, até ter a respiração controlada. Levanta-se e desata a correr em direcção à estação de comboios.


De volta ao w.c.:

Já mais relaxado, sai da banheira, veste-se, pega num cobertor e vai até à varanda. Estende-se ao comprido na rede e ali fica, a olhar para as estrelas. A noite está fria e começa a cair uma chuva miudinha. Mas está-lhe a saber bem. Sente-se dorido mas vivo, e ali fica a noite inteira. A chuva e as lágrimas misturam-se, deixando-lhe a cara molhada.
Assiste ao nascer do sol na varanda, ainda deitado na rede. Levanta-se para ir tomar o pequeno-almoço. Prepara a mochila e sai, pronto para mais um dia de busca.
Se já estava desanimado ainda se sente pior quando dá de caras com a estação fechada.
Perdi a noção dos dias. É fim-de-semana outra vez. Raios partam!
A estação de comboios não tem movimento que justifique aos fins-de-semana e por isso está fechada.
Nina, Manecas e o Sr. Anselmo estão de folga.
Onde andarão os meus amigos? A divertirem-se, espero!
Dá meia volta e afasta-se da estação.
Ainda olha para trás, em direcção ao bairro dos arredores mas pensa que o melhor a fazer é não se aventurar por ali.
Não, hoje é melhor não me aventurar por ali. Estou todo dorido da tareia que levei ontem. Com a sorte que tenho ainda dou outra vez de caras com o “Gigante”.
E dá mesmo! A sua sorte é que o outro está virado de costas e não dá pela sua presença. E Jota não tem outra hipótese senão ir embora.
O caminho do meio vai ter que ficar par outro dia. Mas também quem já esperou até aqui…

No caminho de volta vai a pé até à estação seguinte e telefona a Hugo “Boss”. Este já tinha saído do trabalho e diz-lhe que está a caminho da praia. Desafia-o para ir ter com ele. Jota, como não tem nada para fazer, aceita e vai.
O dia está fresco e ventoso. Estão os dois sentados na areia, a sentirem o vento a bater-lhes na cara.
Hugo “Boss” fica espantado com o à vontade com que Jota lhe conta tudo o que lhe tem acontecido.

- Man, pareces outro! O que é que te aconteceu? Não sei quem é essa gente, mas que te andam a fazer bem, lá isso andam!
- É boa gente, sabes? Sinto que me compreendem, tal como tu. E que me conhecem, apesar de sermos desconhecidos. É estranho, não é?
- É, e não é. Olha aqueles casais que vivem juntos uma vida inteira e no fim acabam por descobrir que deveriam conhecer-se mas que no entanto nunca se chegaram a conhecer. Igualmente estranho, não é? Contudo, acontece muito frequentemente. É a vida, man! E as pessoas! Caixinhas de surpresas…
- Nunca sabemos o que vai sair lá de dentro! – diz-lhe Jota com ar triste. O amigo sorri.
- E agora? Tens quase a certeza de saber o sítio onde a encontrar mas não podes ir até lá. O que vais fazer?
- Ainda não sei. Se calhar está na altura de desistir.
- Então, man?! Desistir?! Depois de tanto trabalho? Porra! Até uma tareia levaste! Não podes desistir assim sem mais nem menos. Não agora, que já estás tão próximo!
- Não sei! Se calhar é um sinal ou algo do género. Acho que se tivesse de a encontrar, já tinha encontrado.
- Está parvo? Estás quase a encontrá-la de novo!
- E mesmo que a encontre? E depois?!
- E depois, nada! Depois logo se vê! Para que é que estás já a pensar nisso?
- As coisas nunca correm como imaginamos.
- Ah, tens medo?
- Medo de quê?
- Medo de te desiludires. Medo de sofreres. Medo de tudo e de nada. É mais seguro continuares sozinho e descansado, não é?
- Talvez! Antes de a conhecer sentia-me bem. Andava sempre sozinho mas sentia-me acompanhado. Agora que tenho companhia, que arranjei novos amigos e que consigo, finalmente, ter uma conversa normal contigo, sinto-me muito só. Nunca me senti tão só!
- Sentes a falta dela.
- Mas porquê? Como é que é possível?
- Sei lá, man! Porque é mesmo assim. Gostos são gostos. Não se discutem nem se escolhem.
Hugo “Boss” repara no olhar triste e vazio do amigo. Percebe que ele está mais distante do que nunca.
- Não desistas agora! Não desistas quando já estás tão próximo.
Jota encolhe os ombros, faz-lhe uma cara de “logo se vê” e levanta-se.
- Bem, vou indo.
- Já?
- Sim! Não tens umas ondas para apanhar?
- Ya!
Jota lembra-se da bola de Berlim que sobrou do dia anterior. Tira-a da mochila e dá-a ao amigo.
- Toma. Prova e depois diz-me o que achas.
Hugo “Boss” vê o embrulho do café e pergunta-lhe:
- Não foste tu que fizeste, pois não?
- Não. Foi a Nina, a minha amiga do café da estação de comboios.
- Man, estás mesmo em baixo. Já não fazes bolos nem nada.
- Acho que nem volto a fazer. Essas bolas de berlim são uma maravilha. Desculpa por já serem de ontem, mas para a próxima vez trago-te umas do próprio dia e com outros recheios.
- Ok. Obrigadinho e cuida-te.
- Tu também.
Ao ver Jota ir-se embora, a caminhar pela areia fora com ar abatido, Hugo “Boss” lembra-se de uma música que adora. Embora a ache muito triste, é apropriada para o momento:
“One step up and two steps back” (1). Esta música é um original de Bruce Springsteen, conhecido como “The Boss”, e também é cantada por Eddie Vedder, vocalista dos Pearl Jam, também ele praticante de surf. Hugo conhece bem as duas versões e é fã destes dois vocalistas. Por isso mesmo imagina a versão perfeita, um dueto entre os dois. E é esta versão que não lhe sai da cabeça e passa o resto do dia a apanhar ondas e a ouvi-la.
Hugo faz uma pausa para comer e fica maravilhado com a bola de berlim.
Jota tinha razão. Mesmo a ficar dura por ser de ontem, continua boa. Que delícia!
Guarda o papel que a embrulhava e onde está a morada do café.
Um dia destes tenho de lá ir abastecer-me.
E sorri ao pensar isto.

No caminho para casa Jota pega pela primeira vez em muitos dias na sua máquina fotográfica e recomeça a tirar fotos a desconhecidos.
Olá Anónimos! Sentiram a minha falta?
Não é com um ar animado ou entusiasmado que pensa isto, mas sim com um ar nostálgico.
E lá vai ele, parecendo estar a voltar ao que era.
Voltei à minha rotina. Voltei a ser uma sombra.


____________
(1) Tradução livre: “Um passo em frente e dois para trás”.

domingo, 27 de março de 2011



O caminho parece longo mas quando damos por nós chega ao fim.
- Ainda nem vou a meio. – digo eu.
Ao qual tu me respondes:
- É porque fizeste demasiadas paragens. Perdeste tempo com caminhos que não eram os teus. Tempo perdido.
- Tornaram-se meus a partir do momento em que os escolhi. Além disso, o tempo não se perde.
- Certo. Mas se tivessem sido as escolhas certas não estarias agora a meio do caminho mas sim no fim.
- Mas não tinha experimentado caminhos diferentes.
E é esta a grande diferença entre nós:
Eu gosto de experimentar, de me atrever a sair do passeio para poder passear na estrada.
Enquanto tu… tu preferes seguir o teu caminho “perfeito”.
Espero que tenhas tido um bom passeio, eu cá prefiro labirintos!

domingo, 20 de março de 2011

Espelho meu



Olho para ti e vejo uma alma pura e calma
sem nada a esconder, por tudo declarar
Ponderada em todas as escolhas
nunca deixando porém de procurar
e ir sempre mais além
Sabedoria
de quem jamais se atreveria
a trair a sua amada
em troca de quase nada
Gostava que fosses um espelho,
o meu espelho
E sei que sabes a felicidade que sinto
por saber sentir que o és,
Espelho meu!