terça-feira, 30 de novembro de 2010

A história do Capuchinho Vermelho (do ponto de vista da avozinha)



Era de manhã bem cedo, estava eu ainda a dormir quando de repente me bateram à porta.
- Ai valha-me Deus! Que susto! Quem é? – gritei eu.
Ouvi uma voz delicada responder educadamente:
- A Srª desculpe, mas é uma emergência…
- O quê?! – gritei eu novamente. A idade avançada não perdoa e já estou um pouco surda.
- Não se importa que use a sua latrina? Reparei que tem aqui uma no quintal… - respondeu-me a voz delicada.
- Nem pensar! Que descaramento! Incomodar-me a estas horas, ainda por cima para me vir sujar a casa… Nem pensar!
- Mas eu não quero entrar em sua casa. Só preciso que me deixe usar a latrina que está aqui fora. Prometo que deixo tudo limpinho, e se quiser, até lhe limpo o quintal.
- Já disse que não! Que chatice!
- Mas não está a perceber… estou prestes a rebentar… - disse a voz cada vez mais aflita.
- Vai rebentar longe! – respondi-lhe eu irritada.
Nisto comecei a ouvir uns barulhos estranhos. Espreitei pelo ralo da porta. Aquela voz delicada pertencia ao Lobo Mau e os barulhos estranhos à sua barriga. O desgraçado estava mesmo prestes a rebentar.
- Raios partam aquelas malditas ervas! – ouvi-o dizer - Mas o que é me havia de dar na cabeça para me querer tornar vegetariano? É bem-feita! Agora sofres!
Vi o Lobo começar a contorcer-se com dores. Não resisti e comecei a gozar com ele:
- Com que então vegetariano?! Onde é que já se viu uma coisa dessas…
Ele estava tão aflito que já nem me respondeu e de repente arregalou muito os olhos.
- Porque é que tens uns olhos tão grandes? – perguntei-lhe eu divertida.
- Por favor… deixe-me… - implorou o Lobo, quase sem voz e logo de seguida abriu a boca para gritar de dor. Eu estava tão deliciada com o seu sofrimento que continuei com a brincadeira:
- E porque é que tens a boca tão grande?
- Aaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!! – gritou ele de dores.
O inevitável aconteceu e o Lobo Mau borrou-se pelas pernas abaixo. Ao ver isto soltei uma maléfica e sonora gargalhada:
- Muahahahahah!
Mas quando me chegou ao nariz o cheiro nauseabundo do que tinha acabado de acontecer, abri a porta para ralhar com o porcalhão.
Para mal dos meus pecados logo tinha de ter o azar de abrir a porta no exacto momento em que o Lobo Mau inspirou fundo de boca tão aberta que fui imediatamente engolida.

Ao contrário do que se conta por aí, o Lobo Mau, que afinal queria ser bom, não se limitou a engolir-me inteira:
- Ahhh que pitéu! Nunca deveria ter deixado de ser carnívoro. – disse o Lobo enquanto esfregava a barriga com ar satisfeito.
O Lobo Mau mastigou-me e digeriu-me até ao FIM!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A SOMBRA




Grito
Por não saber como agir
Choro
Por tanto sentir
Sinto
Que me perco
Sinto
Que tudo é incerto
E só a certeza de que tudo tem um fim
Me acalma a Alma

Falta-me o ar
A vista turva-se
Oiço vozes
Mesmo sabendo que estou só
E tremo…
De frio
De medo
E chamo…
Por ti
Por mim

Choro um rio
Onde me perco
Por tempo indeterminado
Num caminho incerto

Sinto-me desaparecer
Sinto-me uma sombra do que poderia ser
E deixo-me ir
Sempre é melhor do que sentir

Fico quieta à espera
Que algo ou alguém
Me venha aliviar deste aperto
Deste cerco cerrado onde me perco
Que me venha despertar
Que me venha assombrar

Assombra-me

BREU




Fecho-me no meu casulo
De onde não saio
Por nada nem por ninguém
Sinto-me seguro
Neste meu Mundo Sombrio
Que criei só para mim
Sem orgulho nem brio
Escuro como breu

Odeio a claridade, fere-me os olhos
Prefiro a obscuridade desta solidão
Assim não tenho que me justificar
Não tenho que viver uma mentira
Vivo uma verdade merdosa
Mas que é só minha
Que não se aninha
Que não se acomoda

Estamos fora de moda
Mas o que é que isso importa?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O 1º beijo



Estava uma noite de Inverno daquelas horríveis que toda a gente detesta, excepto Vicente, um rapaz de 13 anos, que adorava a chuva, a trovoada e acima de tudo o vento frio que lhe ia batendo na cara, à medida que iam avançando. Vicente estava sentado na parte de trás do carro, com o pai a conduzir e a mãe ao seu lado, assustada. Era o segundo ataque de asma que Vicente tinha. O trânsito não os deixava avançar. Vicente tentava pensar em coisas que o distraíssem pois estava prestes a desmaiar, com o ar a mais que teimava em acumular-se no seu peito, sem querer dar a volta para sair. Quando teve consciência de que poderia morrer se não chegasse a tempo ao Hospital, lembrou-se de fazer uma lista mental de coisas que nunca tinha feito e que queria fazer. Apenas uma coisa lhe veio à ideia. Nisto, lá chegaram finalmente ao Hospital, onde Vicente teve que passar a noite a receber oxigénio e soro. No dia seguinte, já recuperado, Vicente não conseguia parar de pensar na única coisa da sua lista.
Atravessaram a imensidão do espaço quase branco, que dava um ar demasiado pálido às pessoas que ali se encontram, devido à luz artificial. A mistura de cheiros indispunha qualquer um que por ali passava. Desinfectante, éter, remédios, sangue fresco, sangue seco, doença, enfermidade. A mistura do barulho provocado pelos vários ruídos de fundo também não ajudava. Ouviam-se as sirenes desenfreadas das ambulâncias que ora chegavam, ora partiam. Os intercomunicadores tendiam a distorcer as vozes dos anunciantes e dificultavam a identificação do nome de cada doente, deixando-os ansiosos desnecessariamente. Os queixumes de cada um em relação às suas mazelas e em relação ao interminável tempo de espera. Corpos que se torciam nos bancos em que estavam sentados. Corpos que vagueavam por entre aquelas quatro paredes. Corpos que se aventuravam mais além, metendo-se pelos corredores frios e intermináveis adentro.
E é neste ambiente doentio que os doentes ainda se sentem pior e os seus acompanhantes, que geralmente entram saudáveis, saem dali a sentirem-se ligeiramente doentes, quer psicologicamente, quer por vezes até mesmo fisicamente, quando apanham algum resfriado devido às correntes de ar que se fazem sentir, às diferenças de temperatura que variam de sala para sala e aos corredores sempre frios. Os mais azarados podem mesmo chegar a apanhar algum vírus que por ali ande à solta, sempre à espreita, sem nunca perder a oportunidade de atacar os mais fracos.
E foi à saída do Hospital, na sala das Urgências que a viu. Aquela cara laroca emoldurada por uns lindos cabelos louros e encaracolados despertaram-lhe o interesse e o desejo de concretizar aquilo que tinha passado a noite a idealizar. Ela devia ter a sua idade. Ele nem se preocupou com isso nem com o facto de ela ser uma desconhecida e os pais de ambos estarem presentes. A única coisa em que pensava e que queria fazer era dar-lhe um beijo, o seu primeiro beijo, e provavelmente, o dela também. E enchendo-se de coragem lá foi ele a correr em direcção a ela. O beijo foi atabalhoado e deveras estranho para ambos devido à novidade, à surpresa, aos gritos esbaforidos dos pais de cada um. O tempo pareceu parar para os dois jovens que, deixando de ouvir o barulho em redor, se entregaram aquele breve momento que lhe pareceu durar uma eternidade. E o sorriso com que ambos ficaram na cara, não deixou dúvidas de que aquele primeiro beijo “roubado” lhes iria ficar na memória para sempre.

(TPC de Escrita Criativa_O 1º beijo)

(TPC de Escrita Criativa – Foto_Varanda em cima de carris – História/Redução/Poema)


Varanda em cima de carris

Pode não parecer, mas esta é uma história triste, apesar de pertencer a uma bonita fotografia. É a história de um Sr. que sempre sonhou ser maquinista, mas que nunca, durante toda a sua vida, o conseguiu realizar. Adorava comboios desde pequeno e até sonhava com eles. E quando viu à venda aquela pequena casa à beira dos carris, não pensou duas vezes em se mudar para lá. Antes de fazer a mudança percebeu que faltava alguma coisa: uma pequena varanda em primeira linha com vista para os comboios. O Sr. lá arranjou maneira de conseguir uma autorização para a sua maravilhosa varanda, mas a medição foi mal feita, e a varanda acabou por ficar mesmo por cima dos carris. O Sr. estava tão entusiasmado que nem se apercebeu deste erro fatal. E, se não tivesse morrido com o susto que apanhou com o horripilante apito de aviso de um comboio que por ali tinha de passar, teria acabado por morrer com o embate deste, na sua maravilhosa varanda.

Redução


Triste
Maquinista
Sonhava
Casa
Varanda
Maravilhosa
Fatal
Morrer

Poema


Triste
sina a sua
maquinista azarado
que sonhando sonhava um sonho,
jamais realizado.
Mudou-se para uma casa,
modesta mas honesta, sem manha nem façanha,
onde não pôde deixar de faltar uma varanda airosa
de tal modo maravilhosa,
que não vendo o perigo que o iria alcançar,
a espreitar,
e o seu sonho malfadado
em perigo transformado,
acabou por fatal se tornar como o destino
e que por falta de tino,
não à partida mas sim à chegada,
deixou o sonho morrer,
sem querer,
e com ele a sua própria vida,
mal amada, bem sofrida.

sábado, 13 de novembro de 2010

A história da Sra. Indecisão




A Sra. Indecisão acordou cedo e, como de costume, vestiu um colete e uns corsários, pois nunca conseguia decidir se sentia frio ou calor. Calçou uns ténis confortáveis porque sabia que se tivesse de ir à rua iria andar a pé fosse para onde fosse porque não conseguiria decidir qual o transporte que deveria apanhar. Os pés, calejados de tanto andar, doíam-lhe, e apesar das unhas sujas e de alguns fungos que teimavam em não desaparecer devido ao descuido, não os lavou, porque nunca conseguia decidir se os devia lavar antes ou depois das suas caminhadas. De seguida penteou o cabelo que lhe dava pelos ombros, sem corte definido, com algumas madeixas, que fez por não ter conseguido escolher uma só cor, e com a sua cor natural já a aparecer nas raízes.
Estava em casa sem saber o que fazer, quando ouviu o telefone tocar, e pensou:
Quem será? Será para mim? Será engano? Devo atender ou ignorar?
A sua estatura e peso mediano deveriam pertencer a um andar decidido, mas não pertenciam e ela caminhou com passos incertos e inseguros até junto do telefone.
E ficou perdida nos seus pensamentos durante o tempo suficiente até este se calar.
Logo de seguida a Sra. Indecisão pensou:
O que faço agora? A lida da casa, vou às compras ou devo ficar junto do telefone e esperar que toque novamente?
Até que perdeu a noção do tempo todo que esteve a tentar decidir o que fazer a seguir e passou a manhã inteira imóvel junto ao telefone que não voltou a tocar, à espera, já nem ela própria se lembrava de quê.
À hora do almoço tocam-lhe à porta e a Sra. Indecisão recomeçou a ter pensamentos semelhantes aos anteriores:
Quem será? Será para mim ou será engano? Devo atender ou ignorar?
E nisto estremeceu de susto com a voz rouca e familiar que ouviu do outro lado da porta, vindo da rua:
- Sei que estás em casa! Abre-me a porta! Sou eu!
A Sra. Indecisão não foi capaz de ignorar a ordem da sua vizinha do lado e abriu-lhe a porta imediatamente.
Cumprimentaram-se e estava tudo a correr bem. A vizinha comentou a decoração da sua enorme casa:
- Que engraçado! Tens poucas coisas, mas todas com estilos tão diferentes.
A Sra. Indecisão continuou calada, até que a vizinha lhe perguntou:
- Queres ir almoçar fora?
Esta pergunta foi um verdadeiro martírio para a Sra. Indecisão, que só teve tempo de arquear as sobrancelhas assimétricas e os seus olhos estrábicos ficaram com um ar perdido e mais inseguro que o normal. E respondeu:
- Sei lá
Não imaginam o chorrilho de perguntas que a pobre coitada teve que ouvir logo de seguida:
- Mas tens fome ou não tens fome? O que queres comer? Mandamos vir ou almoçamos fora? Onde? Sítio barato ou caro? Carne ou peixe? Não me digas que já te tornaste vegetariana! E que tal Sushi? Ou tens nojo?
Isto foi demais para a Sra. Indecisão, que sem conseguir responder a uma única pergunta, deixou-se ficar imóvel sem dizer uma única palavra, e começou a roer as unhas, cada uma pintada da sua cor.
A vizinha como percebeu que não ia obter nenhuma resposta disse-lhe muito a pressa:
- Olha, já percebi que não deves estar com muita vontade de ir almoçar comigo. Falta de apetite, talvez! Deixa lá mulher, fica para a próxima. Tchau tchau! – e saiu porta fora.
A Sra. Indecisão deixou-se ficar imóvel, parada junto à porta, sem conseguir decidir o que fazer, sem conseguir sequer mexer-se, apenas a sentir os segundos, os minutos, as horas, os dias, os meses a passarem por si. Até que sentiu as duas alianças que usava sempre nos dois dedos anelares, agora excessivamente magros, caírem-lhe.

(TPC de escrita criativa - Personagem de uma só dimensão)

domingo, 7 de novembro de 2010

Ressaca



Embriagado de amor, deixei-me levar pelo teu calor humano e quando me dei conta estava perdido para sempre nesse sorriso sincero que o torna tão especial, tão bonito. Maldita sejas!... Por me tentares sem me poderes dar nada em troca. Por me atazanares o juízo. Por me teres feito sair da minha toca, do meu refúgio onde canto as minhas mágoas e encanto quem lhes presta atenção. Mas não, tinhas que vir tu e estragar tudo, invadindo o meu mundo seguro que criei somente para mim.
E agora vai-te embora! Quero ressacar sozinho!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

TORPOR



O real é dor
É vida incolor
É morte sentida
Antes da sua hora chegar
Antes da minha derradeira partida
E só me apetece chorar
Toda uma vida perdida
Por tudo o que deixo passar
Em constante torpor
...por Amor.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O dia de Natal

(TPC de escrita criativa, para uma aula que acabei por faltar...=P)

Dia 25 do último mês, a noite cai, mas a sala está estupendamente iluminada, filas inúmeras, corpos miúdos ainda mais, espalhados escrupulosamente pelo imenso armazém fabril. Este será o seu oitavo Natal, palavra conhecida da cabeça, mas estrangeira ao coração, nunca a celebrou, no seu país ninguém tem o hábito, mas o corpo sabe que algo ocorre nestes dias, as pequenas mãos brancas mexem-se sempre mais rapidamente nestas últimas semanas do ano, passam-lhe pelos dedos centenas de bonecas todos os dias, são pouco mais pequenas do que ela, após saírem da sua mão passarão por mais algumas, entrarão depois num avião, ou barco ou comboio, ela não sabe, mas sabe que do lado de lá da viagem está alguém da mesma idade que ela ou semelhante. Aqui está frio, as luzes brancas estão no tecto alto do barracão, o calor delas não chega cá a baixo, mas do lado de lá deve estar quente, o calor aconchegante de uma lareira talvez, a excitação deliciosa de uma caixa colorida há dias sentada debaixo de uma árvore, árvore que, mesmo sendo de plástico, dá vida aos sonhos dos tantos que, do lado de lá, apenas têm de rasgar o embrulho.

O sol raiou há horas, uma brisa fria escorrega-se para debaixo do edredão, ouvem-se umas vozes à distância, há uns risos de criança, uma gargalhada de homem, talvez o pai. Ele ergue-se do cartão húmido onde passa habitualmente as noites, incluindo as de Natal, apoiado no cotovelo vê a família que de repente desaparece passada uma esquina, ele come castanhas num jornal, elas têm uma boneca na mão, riam alto. Já se contam como treze as consoadas passadas na praça aqui na baixa, onde há sempre concertos à noite nestes dias, adormece enlaçado no calor de milhares de corpos dançantes, no dia seguinte desperta com um frio meias adentro, um muco que escorre silenciosamente pelo nariz, com um estômago saudoso da sopa e do bacalhau da véspera, a sopa e bacalhau que, todos os anos, circulam nos últimos minutos dos telejornais dos vários canais. Senta-se encostado a um dos grossos e quadrangulares pilares do ministério, retira o áspero cachecol do pescoço, o organismo acorda agora de vez, três ou quatro companheiros de arcada deambulam pela periferia do seu olhar, são 11 horas e há um dia quase inteiro pela frente, se é 25 ou um outro número qualquer pouco importa, aos sentidos a diferença é menos que nenhuma, o sol atrás das nuvens é igual a todos os outros sóis e nuvens de todos os outros dias com sol e nuvens, o frio é o mesmo de todos os Invernos, a fome a mesma de todas as manhãs até meio da tarde.

É loira, pele alva e imaculada, azul no olhar mas rígida nas carnes, nasceu faz meses em lugar inóspito, muitas máquinas rijas e superfícies frias ao toque, andava ela ainda nua, um corpinho frágil saltitando de mão em mão, todas escondidas dentro de luvas macias, os olhares caíam em si como se não estivessem nem ela nem eles ali, era apenas mais um de uma infinita lista de produtos a encaixar, atarraxar, terminar e empacotar numa caixa de cartão qualquer, acamada entre plásticos ligeiramente insuflados. Assim ficou na mais pura escuridão, horas a fio, acordou mais tarde numa prateleira a dois metros do chão, via sobretudo cabeças e cabelos, uma dessas cabeças apontou para ela e um homem agarrou-lhe pelo braço e voltou para dentro de uma caixa. O pesadelo da escuridão tinha voltado, a jovem loira não percebia o porquê destas viagens ocultas, ouvia vozes e passos, barulhos mecânicos e portas a bater, depois apenas silêncio, durante dias cortado só por vozes suaves, de vez em quando uma melodia doce no ar, passos delicados com requebres de tecido roçado. Um dia, de repente, vozes exaltadas, risos e canções no ar, o som de talheres e pratos, e movimento na caixa, trambolhões amparados pelas plastificadas almofadinhas de ar, e luz finalmente, branca sobretudo, mas intermitentemente também e às cores, rostos vários, sorrindo e voltados para uma criança, parecia-se com ela, loira igualmente, olhos verdes muito claros, com rasgos de transparência, brilhando com a intensidade de uma alegria especial, a boneca ergueu-se no ar, no topo das mãos suadas mornas da menina, estava quente ali, um fogo aconchegante no canto da divisão, os olhos que a fitavam, os da menina loira acima de todos, estavam repletos de uma vida que ela não havia conhecido ainda.