domingo, 12 de dezembro de 2010

O dia de Natal




Natal! A altura mais bonita do ano inteiro. Aquela pela qual espero ansiosamente. No início de Dezembro faço o presépio mais lindo que me é possível fazer. Coloco sempre os três reis magos atrás de uma pequena colina, feita de musgo, apanhado nos quintais das traseiras da minha casa. E todos os dias, os faço avançarem em direcção ao menino Jesus, ajudando-os a darem um passo pequenino, tal como eles.
Já é noite, e espero ansiosamente a chegada da família toda. Somos muitos, vivemos longe uns dos outros, mas somos muito unidos e isso nota-se sempre nesta altura do ano. Olha estão a bater à porta, devem ser eles.
Rita abre a porta e exclama de alegria:
És tu! Ai prima, estás tão linda! Que saudades! – diz isto enquanto dá um abraço forte e sincero à prima, que o recebe sem demonstrar qualquer emoção e pensa:

Pronto, começou o martírio! Que Inferno de vida a minha! Por isso é que eu detesto esta altura do ano! Tenho que ser simpática para pessoas que passo o ano inteiro sem ver e sem me lembrar delas, por isso mal as conheço. Tenho que sorrir só porque são família, e se não o fizer pode parecer mal. Tenho que gastar todo o dinheiro extra que recebo em futilidades inúteis. Tenho que fingir que acredito nas palavras carinhosas desta invejosa que sempre me detestou. Tenho que pôr o meu melhor sorriso e retribuir os seus elogios. A única parte boa no meio desta tortura/hipocrisia toda, são os doces. E lá isso, ela faz bem! Aproveito sempre para tirar a barriga de misérias e comer tudo o que posso nesta altura. Mas sei que mereço! É recompensado um ano inteiro de sacrifícios pela dieta. Olha, estão a tocar à porta. São eles.
Joana vê Rita abrir a porta e exclamar de alegria:
São vocês!
Joana esforça-se por esboçar o seu melhor sorriso, enquanto pensa novamente: Que Inferno de vida a minha!

A sala está sem dúvida bem decorada, pensava ela, presa no seu canto, sem se conseguir mexer. Aliás, tanto quanto sei, a casa inteira está um mimo. Daqui não consigo ver, mas já ouvi dizer, e a julgar pelo que vejo à minha volta, deve estar toda lindíssima. A Rita esmera-se sempre, mas este ano caprichou. Pudera! Está mais feliz do que é normal. Eu até já sei qual o motivo de tanta felicidade, mas como deve ser surpresa, não vos vou contar. Pode ser que tenham sorte e que ela decida contar a meio do jantar. Chega de falar dos outros, agora vou falar um pouco de mim e de como esta altura do ano me deixa deprimida, especialmente este dia. No princípio de Dezembro, quando tudo começa, sou limpa, acarinhada, mimada, decorada. É o dia mais feliz que tenho. Depois a cada dia que passa, sinto o afastamento, a falta de atenção, a estagnação, o abandono, o esquecimento. Sei que este dia não seria o mesmo sem a minha deslumbrante presença, mas custa-me não ter a atenção nem o reconhecimento merecido. É por isso, que este é o pior dia de sempre para mim. O dia em que me sinto só, apesar de ter tanta gente à minha volta. Abandonada, como uma sombra. É triste estar presente mas não ser notada, querer participar, mas ser posta de lado. É triste a vida de uma simples Árvore de Natal!

Deixa-me dormir mais um pouco, por favor! A tua alegria e excitação não me deixam sossegar. Está bem, sinto a energia do chocolate que estás a comer. Obrigada mamã, são os meus favoritos! Ainda não te conheço, mas sinto o que se passa aí fora através de ti, das tuas emoções, dos teus sentimentos, das tuas reacções e dos alimentos. Um dia hei-de saber… quando me deres à luz.

Depois do jantar, bem comido e bebido, bem falado, mal amado, depois da troca dos presentes, depois de verdades, mentiras, saudades, eis que chega ao fim mais um dia de Natal, diferente, mas igual a tantos outros, porque durante toda a nossa vida, todos os dias, sorrimos às pessoas que mais detestamos, acarinhamos quem nos despreza, invejamos ou sentimos inveja da parte de quem nos ama, caímos no erro de nos rodearmos de pessoas que sistematicamente nos fazem mal, só porque gostamos delas, mesmo quando nos fazem sentir miseráveis. Por isso, deixo-vos uma pequena grande sugestão: não se prendam a amores impossíveis, pois possivelmente será o amor a encontrar-vos, não se deixem rodear por quem vos faz ou fez sofrer. Viver não significa sofrer, significa buscar e encontrar a felicidade, onde quer que ela possa estar, a começar por nós próprios, interiormente. Agarrem-se às pessoas que fazem o possível e o impossível para vos ver sorrir sempre, nos bons e nos maus momentos. Encontrem o equilíbrio de que necessitam, seja ele interior, exterior, a sós ou acompanhado. Procurem o que vos faz realmente felizes. Aquilo que vos dá força para acordarem de manhã, e enfrentarem mais um dia neste mundo, por vezes cruel. Mais uma noite escura e fria. Procurem a força que vos move, seja material, física, espiritual, outra pessoa ou vocês próprios. Mas, seja o que for, agarrem-se a isso com toda a garra que tiverem, sem nunca largar, sem nunca duvidar. Conscientes, tal como eu, de que assim se passou mais um dia de Natal, mas ficou a certeza do que se quer nos outros dias todos, até ao próximo. Eu quero ficar a dormir na minha caixa. Por isso, se não ligarem nenhuma ao que acabei de dizer, não me importo, porque estou consciente de que tudo isto foram as divagações de uma simples Estrela de Natal.

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