domingo, 26 de dezembro de 2010

Dicas...

O modelo “clás­sico” de nar­ra­tiva é aquele em que um pro­tag­o­nista activo e inter­es­sante tem um objec­tivo defi­nido e impor­tante mas encon­tra no seu cam­inho obstácu­los difí­ceis de ultra­pas­sar. Este modelo tem, pois, alguns pres­su­pos­tos: o pro­ta­go­nista é ativo, ou seja, faz as coi­sas acon­te­ce­rem, não se limita a andar ao sabor dos acon­te­ci­men­tos; é inte­res­sante, no sen­tido em que tem carac­te­rís­ti­cas que moti­vam a iden­ti­fi­ca­ção, empa­tia ou fas­cí­nio do espec­ta­dor; tem um objec­tivo claro e impor­tante, que se não for alcan­çado terá con­seqên­cias gra­ves na sua vida; e encon­tra obs­tá­cu­los e difi­cul­da­des para alcan­çar esse o objec­tivo, sem os quais a estó­ria não seria dra­má­tica, ape­nas um pas­seio. Robert McKee, recordo ainda, acres­cen­tava mais duas carac­te­rís­ti­cas que con­vém recor­dar: esta nar­ra­tiva clás­sica decorre numa rea­li­dade con­sis­tente e cau­sal, ou seja, em que as regras não mudam a meio e há uma lógica de causa e efeito; e a estó­ria tem de ter um final fechado, con­du­zindo a uma situ­a­ção radi­cal­mente dife­rente da inicial.

Uma estó­ria clás­sica começa pois com a colo­ca­ção de uma ques­tão dra­má­tica ao pro­ta­go­nista, à qual ele tenta res­pon­der lançando-​​se num per­curso que vai sendo reche­ado de novas ques­tões dra­má­ti­cas, e em que a única ver­da­deira regra é man­ter o espec­ta­dor per­ma­nen­te­mente curi­oso acerca do que vai acon­te­cer a seguir. Vimos que para o con­se­guir o gui­o­nista deve apos­tar em duas coi­sas: con­flito — os obs­tá­cu­los e difi­cul­da­des que o pro­ta­go­nista tem de enfren­tar — e sur­pre­sas. Pela selec­ção des­sas fon­tes de con­flito e sur­pre­sas o gui­o­nista cria o enredo da sua estó­ria, ou seja, a suces­são dos acon­tec­i­men­tos neces­sá­rios e sufi­cientes para a contar.

Vimos ainda que este enredo toma nor­mal­mente forma den­tro de uma estru­tura clás­sica, que é defi­nida como “o para­digma dos três actos”. Ou seja, a estó­ria é posta em mar­cha por um deter­mi­nado acon­te­ci­mento que lança a ques­tão dra­má­tica (o gati­lho ou cata­li­za­dor); arranca a par­tir do momento em que, no fim do 1º acto, o pro­ta­go­nista decide tomar nas suas mãos a solu­ção do pro­blema (1º ponto de vira­gem); se desen­volve numa suces­são de pas­sos pro­gres­si­va­mente mais difí­ceis até que, no final do 2º acto, o pro­ta­go­nista se encon­tra na reta final para a con­clu­são (2ª ponto de vira­gem); e ter­mina de forma con­clu­siva num grande con­fronto final (o clí­max).

Já vimos tam­bém, na aná­lise do pro­ta­go­nista, como este é defi­nido pelas suas esco­lhas. Ou seja, em cada momento da estó­ria, quando con­fron­tado com um obs­tá­culo, uma difi­cul­dade, em dilema, o pro­ta­go­nista tem de esco­lher um rumo de acção. A opção que toma revela a sua per­so­na­li­dade e influ­en­cia o pro­gresso da estó­ria. É isto que define o que eu chamo de “meca­nismo de pro­gres­são dramática”.


João Nunes

http://joaonunes.com/2009/curso-de-guionismo/curso-rapido-o-mecanismo-de-progressao-dramatica/

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