terça-feira, 3 de agosto de 2010

Num mar de ondas negras

Há aqui um silêncio tão profundo que me custa andar por entre estas paredes, como se a atmosfera desta casa estivesse cheia de água e os meus movimentos se tornassem lentos, tolhidos pela minha solidão, parece que em cada momento sinto o vazio que penetra todo este espaço, está fora de mim, está dentro de mim, está entre ambos também, em cada esquina da minha própria casa temo escorregar nas lágrimas que querem cair, esta tristeza puxa-me como a gravidade da terra, é o meu coração que me suga para dentro, e mais para dentro, vou-me encolhendo em mim, debruçando-me sobre mim, enrolando-me no meu abraço, sou caracol de dor, espiral enterrando-se na lama que se acumulou no fundo da minha alma, silêncio silêncio e solidão sem fim, a minha música parou, fui multidão que se esvaziou e agora sou somente uma praça vazia dentro de mim, sou como estrela que brilha sozinha em todo o firmamento, a minha luz não me chega, não há espelhos que me reflictam e me devolvam a mim, num mar de ondas negras como a noite é praga e maldição ser semelhante barcaça de luz, permitam-me um naufrágio e tornar-me apenas naquilo que detesto.

(Excerto d'O Génio)

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